domingo, 11 de agosto de 2013

Cartas para Samuel

Olá, Samuel. 

Espero que tudo esteja bem contigo. Não sei se gostarás de ler esta carta, mas muita coisa aconteceu em minha vida e queria que tu soubesses. Passo por um fase bastante lúcida, entre todas as que passei, essa parece a mais intensa. Como prometi a mim e a ti que não ousaria reclamar da vida aos teus ouvidos, hei de cumprir isso. Então, apenas relatarei como está a minha vida. Quero falar de coisas simples, entenda-me. Espero ansiosamente que esta carta chegue a ti.

Estou cozinhando. De vez em quando, enquanto almoço, lembro das tuas palavras acerca da necessidade de aprender a cozinhar, principalmente quando a comida que eu faço fica com um gosto péssimo. Não nasci para cozinhar, sempre te falei isso. Aos poucos estou aprendendo a fazer uns pratos que até me satisfazem, claro que estão sempre piores que os de minha mãe e, talvez, de qualquer outra pessoa que já cozinhou na Terra. Também continuo inventando receitas, que continuam muito ruins, mas consigo me divertir ao menos. Sei que me perguntarás se estou mantendo a rotina na minha alimentação, a resposta é não - sei que também já esperavas essa resposta. Estou tentando fazer isso, um dia terei uma alimentação equilibrada, acredite em mim.

Preciso te contar como vão meus estudos. Bem, há pouquíssimo tempo tudo estava ocorrendo bem, minha animação parecia imbatível e eu mesmo estava contente comigo, parando com as autocríticas grosseiras que sempre costumava fazer. Acredita nisso? Eu quase estava satisfeito com minha dedicação. Sei que tu não consegues imaginar a mim sem um conflito interno, mas nessa questão eu estava quase em paz... Histórico. Porém - continuo odiando os "poréns" -, passei por um lapso de algumas semanas, onde deixei de lado tudo. Sabe, parecia que o que eu estava fazendo me levaria a um lugar tão chato e entediante que eu acabei parando. Ainda não aprendi a lidar com crises. Mas, Samuel, fique tranquilo, ainda aprecio os estudos e estou recuperando o gosto pela faculdade, sei que esse lapso no processo poderá acarretar alguns problemas, mas tu sabes que nunca abrirei mão de meus objetivos. No final tudo dará certo, acredito nisso.

Sobre o amor... Sei que nossas discussões sobre o amor nunca levaram a nada, mas acabei convivendo um pouco com o que de melhor e de pior - ao mesmo tempo - ele nos proporciona. Acredito em ti agora, lembro que me dizias que o sentimento é uma coisa muito frágil. Então, eu que sempre lutei para ser mais frio e racional acabei mergulhando na irracionalidade do amor, ainda estou nadando para sair dela. Acho que tu consegues entender sobre o que estou falando. Não posso dizer que aprendi muito através do que eu passei, mas as pessoas encontram o que elas buscam, acho que é isso que me mantém otimista e esperançoso. Quando as coisas devem ser, elas são. Sim, é de mim que você está ouvindo isso, Samuel. Estou seguindo sua dica de sempre amar, apesar de isso ser difícil para mim, extremamente difícil. Que você também sempre ame, acho que é o que de melhor podemos fazer.

Enfim... eu te disse que seriam coisas simples. Como ainda tenho muitas coisas para te contar, aguarda mais cartas. Um grande abraço. 


De: Igor Rockenbach
Para: Samuel Ipsum

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Doce vida

Oh! Como é bela a vida. Confesso, demorei certo tempo para descobrir a sublime perfeição de nossa vida. Gastamos muito tempo nos lamentado e esquecemos de aproveitar os lindos momentos que a vida nos proporciona. Por que deixamos de lado nossa felicidade? Eis uma pergunta que deveria ser feita a qualquer instante em que estivermos cabisbaixos.

Sinto-me estúpido, dediquei alguns anos da minha vida atrás de uma maneira de, futuramente, amenizar a tristeza da humanidade, nem que fosse de forma mínima. Não compreendo por que o mundo que eu via me causava tanta angústia. Mas como quero voltar atrás! Poderia evitar ter desperdiçado alguns anos e já ter conquistado a tão sonhada felicidade, pois - imagine - teria tanto tempo para curtir a vida, cultivar amizades e despertar paixões... (poderiam ser tantas).

Todas as pessoas ao meu redor sabiam o que fazer, não compreendo por qual motivo resolvi escolher um caminho tão diferente. Veja só: qual a necessidade de ficar absurdamente chateado por uma mãe não conseguir pôr um prato de comida na mesa de seus filhos? Por que alguma pessoa lamentaria a sordidez do mundo, que faz com que certas pessoas nunca conheçam o significado do amor, nunca amando e nunca sendo amadas? Por que deveria alguém chorar pelas inúmeras pessoas que nunca terão a capacidade de lutar por uma vida melhor? Por que qualquer um decidiria ficar aborrecido por perceber que existem milhares de pessoas que não conseguirão alcançar seus sonhos? Não entendo por que alguém lutaria por isso, ideias totalmente absurdas.

Bom, pretendo achar a cura disso... e aproveitar a beleza da vida, finalmente. Há tantas festas que eu posso ainda aproveitar, lançar-me junto a amigos para beber, conversar, jogar cartas, namorar e me divertir. A felicidade é uma coisa simples: amigos, dinheiro, boas festas, diversão e amar uma pessoa que te ame (bonita, de preferência). Por que relutei em escolher isso? Realmente, não sei. Porém, compreendo o segredo da felicidade: um bom drink, beijos apaixonados e amigos para compartilhar conversas - das mais tolas. 

Bem, às pessoas que não terão a oportunidade disso, por não serem escolarizadas, por não terem família ou dinheiro, por morrerem de fome antes da adolescência, sinto muitíssimo. Ou melhor, não sinto, por que sentiria? Não afeta minha felicidade, nem meus amigos e nem a mim. Deixo eles com seus problemas enquanto cuido de meu coração partido. Assim será bem melhor. Agora, só aguardo essa vida me fascinar, como fascinou muitos que enxergam a vida dessa forma. Por que não escolhi a beleza dessa vida antes?! Enfim, agora estou pronto!

Como és doce, vida.